A primeira-dama Janja da Silva (PT-SP) reduziu sua atividade nas redes sociais no início de 2025. No primeiro bimestre deste ano, foram registradas 41 postagens em seu perfil no Instagram, o menor volume desde 2023, segundo levantamento realizado pelo Portal iG.
O recuo ocorre em meio à perda de influência dentro do governo e às críticas vindas de aliados e opositores.
Parlamentares que acompanham o governo atribuem essa redução à diminuição da influência da primeira-dama na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um senador da base governista que conversou com o iG, mas não quis se identificar, avaliou que houve um ajuste no papel exercido por Janja.
“Houve um momento que ninguém sabia mais se o presidente era o Lula ou a Janja. Ela passou a ter uma influência muito grande, definindo horários de reuniões, formas dos eventos, linguagens nas redes sociais, enfim, exagerou na dose. Agora, pelo menos neste começo de ano, ela tem apresentado um entendimento maior que o papel de primeira-dama não é de chefia em cima dos outros ministros”, disse.
Na oposição, a atuação de Janja sempre foi alvo de críticas. Um deputado oposicionista reforçou, em entrevista ao iG, esse posicionamento ao falar sobre a perda de espaço da primeira-dama.
“Ela é deslumbrada e gosta da ostentação. E, por ter zero talento para política de articulação, virou alvo. Uma pena o país ter uma primeira-dama como a Janja”, afirmou o parlamentar, que também preferiu não ser identificado.
O levantamento sobre a frequência das postagens aponta que Janja manteve uma atividade variável nos últimos dois anos. Em 2023, publicou 44 vezes no primeiro bimestre, 68 no segundo, 71 no terceiro, 74 no quarto, 54 no quinto e 66 no sexto.
Já em 2024, os números oscilaram entre 48 no primeiro bimestre e 80 no segundo, seguindo com 63, 68, 65 e 52 postagens nos períodos seguintes. A queda registrada no início de 2025 marca o menor nível de postagens dentro do período analisado.
Derrocada
A influência de Janja na comunicação do governo diminuiu consideravelmente desde que Sidônio Palmeira assumiu a Secom (Secretaria de Comunicação Social).
Aliados apontam que a primeira-dama, que antes era ouvida em decisões estratégicas sobre a imagem do governo, agora tem pouca participação nessas definições.
O distanciamento das redes sociais seria um reflexo dessa mudança de cenário, ainda que os dados indiquem que os primeiros bimestres dos anos anteriores também foram períodos de menor atividade da primeira-dama na plataforma.
Nesta sexta-feira (7), ela discursou ao lado de Lula durante um evento em Minas Gerais. Emocionada, destacou sua resiliência diante das críticas.
“Queria agradecer o carinho que fui recebida aqui por algumas companheiras. É um carinho que só me faz seguir de cabeça levantada. Eu não tenho medo, eu não tenho vergonha, eu só tenho coragem. E a coragem são vocês mulheres hoje, aqui, as mulheres que me abraçam todos os dias. E hoje eu queria dividir com vocês isso, a coragem de seguir lutando por um Brasil e por um mundo mais justo, solidário e igualitário para todas e todos”, afirmou Janja, com lágrimas nos olhos.
De influente a isolada
A perda de espaço da primeira-dama começou a ser notada ao longo do governo Lula. No início da gestão, ela declarou que pretendia ressignificar o papel de primeira-dama.
Durante os ataques de 8 de janeiro de 2023, foi ela quem aconselhou o presidente a não assinar a GLO (Garantia da Lei e da Ordem), argumentando que isso daria poder às Forças Armadas.
Janja também participou de reuniões ministeriais e fez sugestões sobre políticas públicas, principalmente nas áreas de comunicação, saúde, assistência social e direitos das mulheres.
No entanto, sua participação gerou insatisfação entre ministros e parlamentares, o que impactou a relação do governo com o Congresso Nacional.
Declarações públicas da primeira-dama também foram alvo de críticas. O caso mais notório ocorreu em novembro de 2024, durante um evento do G20, quando Janja xingou o empresário Elon Musk. “Fuck you”, disse ela, aos risos.
A repercussão negativa do episódio levou o próprio presidente a se manifestar. “Não concordo com esse tipo de postura. Discordâncias devem ser expressas de forma respeitosa, sem ofensas pessoais. O Brasil precisa de diálogo, não de confronto”, afirmou Lula na ocasião.
Os gastos da primeira-dama também foram questionados pela oposição. A mais recente polêmica envolveu uma viagem à Itália em comitiva com 12 pessoas. O grupo gastou cerca de R$ 292,3 mil em passagens aéreas e diárias, o que gerou críticas sobre o uso de recursos públicos.
Opinião popular
A imagem de Janja perante a opinião pública também foi impactada. De acordo com pesquisa da Quaest, divulgada em 22 de dezembro, 28% dos brasileiros avaliavam negativamente a primeira-dama, enquanto 22% tinham uma opinião positiva. Outros 30% classificaram sua atuação como regular.
Em comparação, em dezembro de 2023, a avaliação positiva era de 28%, e a negativa, de 26%.
Apesar da redução de influência, Janja segue participando de eventos e mantendo uma presença institucional. No entanto, sua atuação já não tem o mesmo alcance dentro do governo, e essa mudança se reflete em sua atividade nas redes sociais.
