Grupos bolsonaristas propagam negacionismo sobre vacinas contra a Covid-19

Cientista diz que o negacionismo atrapalha a caminhada do país para a imunidade e defende que se combata as mentiras

A pregação para desacreditar as vacinas contra o coronavírus está entre as pautas mais quentes do momento em grupos de propaganda bolsonarista no WhatsApp. Reverberando o discurso do próprio presidente Jair Bolsonaro sobre os imunizantes, militantes digitais propagam boatos sobre a falta de eficácia das vacinas e notícias falsas sobre efeitos adversos – incluindo várias supostas mortes entre os já vacinados pelo mundo.

O sentimento antivacinação propagado em grupos de militantes bolsonaritas que a reportagem acompanha está presente em uma porção crescente da sociedade. Uma pesquisa do instituto Datafolha feita na primeira quinzena de dezembro do ano passado apurou que subiu para 22% – contra 9% em agosto – o índice de brasileiros que não pretendem se vacinar contra o coronavírus.

Populares entre os bolsonaristas desde a campanha de 2018, os grupos no WhatssApp não são um espaço de debate sobre política, mas de divulgação e troca de material de propaganda que acaba em grupos mais específicos, como o da família ou o da vizinhança. Em mensagens que têm circulado nos últimos dias, o ceticismo em relação às vacinas que já tem sido aplicadas no mundo contrasta com a crença em notícias falsas sobre a cura do coronavírus por uma variedade de tratamentos experimentais, como o plasma equino.

REPRODUÇÃO/WHATSAPP

Postagem em grupo bolsonarista no WhatsApp

Sobre as vacinas de todos os laboratórios, circulam boatos sobre a possibilidade de causarem doenças mais graves que a Covid-19, problemas para gestantes e mortes.

Pregação contra a vacinação

Os perigos dessa campanha antivacina

Cientista e divulgador científico, o biólogo Hugo Fernandes, que é professor da Universidade Estadual do Ceará, tem usado suas redes sociais para reforçar a segurança das vacinas e a importância da vacinação. Para ele, o debate sobre a vacina não pode focar na “liberdade individual”, como defendem os militantes antivacina, mas na “responsabilidade social”, pois, segundo os infectologistas, se a parcela da população que não se vacinar for alta, o vírus continua circulando.

“Precisamos urgentemente recuperar toda a credibilidade histórica que o brasileiro tem em vacinas. Para isso, é preciso espalhar a verdade: vacinas são seguras e salvam vidas”, defende ele em conversa com o Metrópoles.

Para o cientista, a circulação das fake news nos aplicativos de mensagem é um problema. “Atrapalha. O negacionismo que estamos assistindo no Brasil hoje é mais do que grave, porque não se trata somente de desinformação. Trata-se de um processo provavelmente muito bem financiado de contrainformação”, avalia.

“Milhões de pessoas, motivadas por um sentimento de grupo atrelado a questões políticas, estão achando que a vacina causa efeitos colaterais graves, que pessoas morreram após serem vacinadas em outros países, que os cientistas afirmam que a população não se deve vacinar. Tudo isso é a mais pura e absoluta mentira”, completa ele, que diz ser importante, ao combater essa desinformação, lembrar que há “vilões” nessa história, “mas que a esmagadora maioria das pessoas que acreditam nessas mentiras são vítimas desse processo de contrainformação”.

Guerra da vacina

O debate político em torno da vacinação ganhou força depois que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), começou a promover o acordo entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac para a importação e produção local da Coronavac.

Ainda em outubro do ano passado, Bolsonaro interferiu e desautorizou seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao dizer que vetava a compra da “vacina chinesa”. Desde então, poucas foram as sinalizações do presidente em defesa da vacina.

Bolsonaro tem se concentrado mais em pregar contra a obrigatoriedade da imunização e em desacreditá-la com argumentos e críticas que poderiam ter saído dos grupos de WhatsApp, como na vez em que sugeriu, em dezembro, que os efeitos colaterais da vacina poderiam incluir troca de gênero ou até de espécie.

“Se você virar um chi… virar um jacaré, é problema de você, pô. Não vou falar outro bicho, porque vão pensar que eu vou falar besteira aqui, né? Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou algum homem começar a falar fino, eles [laboratórios fabricantes] não têm nada a ver com isso. Ou, o que é pior, mexer no sistema imunológico das pessoas”, disse o presidente no dia 17 do mês passado.
Caminho da vacina

Enquanto a obrigatoriedade ou não da vacinação segue sendo debatida, o Brasil ainda não tem vacinas garantidas nem para quem quer ou quem mais precisa.

 

Apesar de Bolsonaro ter escrito nesta segunda (4/1) que a vacina emergencial contra a Covid-19 certificada pela Anvisa “está a caminho”, o governo indiano tem um veto à exportação de vacinas contra a Covid-19 desenvolvidas pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford – que é testada no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz. O laboratório público brasileiro articula a importação de 2 milhões de doses prontas da vacina que deve ter seu pedido de registro emergencial no Brasil feito nesta semana.

Também na segunda, o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, afirmou que os pedidos de registro da vacina Coronavac seriam feitos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária em até 48 horas.

Apesar do veto presidencial, o governo federal admite sim a utilização da vacina intermediada pelo governo paulista no Programa Nacional de Imunização. Nos bastidores, porém, há uma intenção do governo Bolsonaro de ter disponível primeiro a vacina de Oxford, para evitar qualquer protagonismo do governador João Doria.

Márcio Brito

Márcio Brito

Designer gráfico DaQui agência Digital e colaborador Mundial fm 91.3

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